CONSTRUINDO
UM ARCO
Introdução
Diante
da quase inexistência de informações sobre a construção de um arco na língua
portuguesa, decidimos por à disposição de todos que tenham acesso à Internet
informações claras e objetiva de como construir seu próprio arco. Não só algo
que consiga disparar uma flecha de qualquer maneira, mas nosso objetivo é passar
conhecimento suficiente para que, com pouco dinheiro, qualquer aspirante a
arqueiro possa ter em mãos uma arma precisa e potente como aquelas que há
milênios fazem parte da história do homem como uma ferramenta para a caça,
defesa, guerra e lazer.
Muitos
são os tipos de arcos existentes (vamos ignorar aqueles compostos com roldanas,
nada tradicionais, feios, apesar de também atirarem flechas), dentre os
tradicionais, talvez o longbow inglês seja o mais conhecido e admirado
no mundo ocidental, também o mais simples deles. Vamos mostrar aqui como fazer
um arco semelhante ao longbow, algo mais próxomo do chamado flatbow,
de maneira simples (apesar de ainda assim complexa para leigos, pois a arte da
construção de arcos não é algo fácil). Nosso objetivo é que se consiga um arco
com a potência desejada pelo arqueiro que irá usá-lo e com ótima precisão,
desde que usado com as flechas corretas e
atirado por alguém que pratique bastante o tiro com este tipo de arco.
Já
alertamos o leitor que construir um arco não é algo fácil, exigirá tempo e
dedicação. Dificilmente o primeiro arco feito por alguém será um bom arco, não
quebrará. Mas não desanime, aprenda com seus erros, tire suas dúvidas com
alguém mais experiente e o próximo provavelmente não falhará.
Ferramentas
Há
um enorme número de ferramentas existentes que facilitariam a confecção de um
arco, mas como muitas delas são caras e outras raríssimas no Brasil, vamos
citar apenas as mínimas necessárias e mais baratas, facilmente encontradas em
lojas de ferragens e ferramentas. Uma boa plaina é essencial, uma grosa
(espécie de lima grossa usada em madeira; Se pronuncia "Groza"), faca(s) e canivete(s), lixas de
papel desde a mais grossa (60 está bom) até a mais fina encontrada (no mínimo
220) passando por todas as intermediárias encontradas (de 20 em 20 está bom,
ex.: 60, 80, 100...), você também precisará de algo para prender sua peça de
madeira em sua bancada (a pia da cozinha ou a mesa da sala também serve), como
uma morsa, mas o melhor e mais simples é adquirir dois grampos ‘C’, os
vulgos sargentos. Uma pequena grosa cilíndrica também será necessária, a menor
encontrada. Instrumentos de medição como régua e paquímetro, com marcações para
centímetros e polegadas, também serão essenciais.
Estas
já são suficientes para execução de um arco.
A
Madeira
A
maneira mais artesanal e eficiente de construir um arco começa pela árvore
ainda viva. Ela é cortada, o tronco rachado radialmente em algumas partes,
deixa-se secar por mais ou menos dois anos na sombra, e começa-se a trabalhar
lentamente a peça de madeira seguindo os anéis de crescimento....etc... Mas como
esta é uma maneira muito complicada e demorada nós vamos construir o
nosso arco a partir de uma peça de madeira comprada em madeireiras, um caibro.
Como
não foi escolhida a região do tronco a ser usada, e por não ser uma peça que
siga os anéis de crescimento, nosso arco teria grande chance de quebrar se não
usássemos um revestimento nas costas do arco, o backing, ( Em
posição de tiro as costas do arco está voltada para o alvo, e o ventre ou
barriga voltada para o arqueiro) mais adiante falaremos mais sobre o
revestimento das costas de um arco.
Deve-se
escolher a peça de madeira mais bonita existente no comércio onde esta for
adquirida. Aquela com a cor mais uniforme, com o menor número de fibras
saltando para fora da peça, sem irregularidades, sem sinais de empenamento,
nós, rachaduras, ou envergações deve ser a escolhida. Não compre qualquer peça de
madeira, uma má escolha pode ser o motivo do fracasso de um arco.
A
princípio, um construtor de arcos experiente pode fazer um arco de qualquer
tipo de madeira, desde que seja uma espécie de relativa qualidade da madeira. A
madeira mais famosa na confecção de arcos é o teixo (Yew), largamente
utilizado na Idade Média nos arcos ingleses. Hoje nos EUA a Osage Orange
é uma das mais renomadas. Mas é quase impossível consegui-las no Brasil sem que
você mesmo as importe. O Ipê (não somente o roxo, mas qualquer ipê) é talvez o
preferido pelos poucos( “poucos”....vamos mudar isso...) construtores de arco
do Brasil. Muitos construtores de arcos experientes nos EUA usaram, e não só
aprovaram mas ficaram admirados com as propriedades do Ipê num arco bem feito,
uma vez eu li uma frase de um deles que dizia: “Ipê revestido com Bambu, uma
combinação mortal.”.
Mas
o ipê não é o único, arcos feitos de Jatobá, Pau Roxo(ou Roxinho), Aroeira (ou
Gonçalo Alvez), Pau Brasil, Pati ( uma palmeira muito utilizada pelos índios da
Amazônia em seus arcos, não há notícias de que alguém, senão os índios, tenham
feito um arco desta madeira) também tiveram sucesso. Dentre estas citadas
pode-se escolher aquela que você possa conseguir com mais facilidade, o Ipê,
Jatobá e Aroeira são aqueles que já foram mais largamente utilizados com bons
resultados.
O
Projeto
Muitos
são os projetos possíveis para uma arco. Aqui vamos mostrar um projeto de simples
execução e que resultará em um arco com o mínimo de possibilidades de
quebrar-se.
Antes
de decidir pelo tamanho de seu arco deve-se conhecer o comprimento da puxada do
arqueiro ao qual o arco está destinado. Lembre-se, um arco deste tipo é um
instrumento quase tão pessoal quanto uma escova de dente. Para conhecer o
comprimento de sua puxada sem ter um arco deve-se estender totalmente o braço
esquerdo com o punho fechado em posição de soco, segure uma haste qualquer com
a mão direita entre o dedo indicador e o “dedo do meio”, como uma flecha, apoie
a outra extremidade da haste no punho fechado esquerdo e encoste o dedo
indicador direito no canto direito de sua boca, até onde a maioria dos
arqueiros tradicionais puxam a flecha, então meça a distância da haste de
indicador a indicador. Esta será em polegadas o seu draw length ou
comprimento de puxada aproximado. Geralmente os arcos comprados são
feitos para uma puxada de 28 polegadas (70 cm), mais ou menos a puxada de um
homem de 1,80 m de altura, é neste comprimento de puxada também que é medida a
potência de um arco em libras.
1" (uma polegada) = 2,5 cm
Quanto
maior um arco menor será a probabilidade deste se quebrar. Para um
iniciante, portanto, recomenda-se que seus primeiros arcos sejam grandes, afim
de não quebrarem-se com facilidade. Deste modo, recomendo que para uma puxada
de 28’’ (vinte e oito polegadas = 70cm) faça-se um arco de 70’’ (175cm), para uma puxada maior do que 29’’ (72,5cm),
seria interessante começar com um arco de 72’’ (180cm). Um arco maior do que 72’’ não
seria interessante na minha opinião. Para puxadas menores que 27’’ pode-se
começar com um arco de 68’’ (170cm). A não ser que esteja-se falando em puxadas
realmente muito pequenas não recomendo que seu primeiro arco seja menor do que
68''.
Suponhamos que o retângulo abaixo seja sua peça de madeira, ela deve ter, no
mínimo 1 ¾’’ X 1 ½’’ X
tamanho do comprimento do seu arco (4,4cm x 3,75 x tam. arco). Os nossos retângulos deste projeto
terão estas medidas mínimas.
O primeiro passo é traçar o centro do arco ( obs.: as medidas deste projeto não
estão em escala, considere que o retângulo a baixo meça 1 ¾’’ x
comprimrnto do arco) :
A
seguir traça-se uma linha 1 ½’’ acima do centro e outra 3’’ abaixo dele,
assim delimitamos a empunhadura:
Então
traça-se uma linha 2 ½’’ acima da empunhadura e outra 2 ½’’ abaixo dela:
Agora
tracemos uma linha longitudinal pelo centro:
Nosso
arco terá 1 ¾’’ em sua área mais larga e ½’’ nas extremidades, sua empunhadura
terá 1 ¼’’ de largura, sendo que todas as variações nas larguras serão unidas
por retas diagonais. A configuração final desta face do projeto ficará
assim, de modo que a lâmina superior é representada pelo lado direito de nosso
desenho:
Como
você já deve ter observado e achado estranho, vou explicar: a lâmina de cima é
ligeiramente maior por ser esta a que sofre maior estresse durante o uso.
Você
deverá trabalhar a madeira até chegar nesta forma em vermelho:
Bem,
vivemos num mundo de, pelo menos, 3 dimensões, vamos continuar...
Aqui
temos a face lateral de nossa peça de madeira já com o centro e os outros
traços marcados como na outra face do projeto(obs.: estes desenhos não estão em
escala, considere que o retângulo abaixo
meça 1 ½’’ x comprimento do
arco):
Não
dá para dizer a potência de um arco a partir de suas medidas devido a
infinidade de variações que encontramos nas propriedades dos diferentes tipos e
peças de madeiras. Portanto indicarei uma espessura inicial de lâmina de ½’’,
esta medida permitirá conseguir desde arcos bem potentes até aqueles menos
fortes durante a finalização da arma. Tracemos então o desenho de nossa
lâmina:
Você
deverá trabalhar a madeira até chegar nesta forma em vermelho:
Face-2
Pronto,
agora que você já tem um projeto para seguir, basta só executá-lo!
Execução
Não
é fundamental que já se tenha experiência com o trabalho manual de madeira para
se construir um arco com relativa qualidade. No entanto não é aconselhável que
seu primeiro trabalho em madeira já seja em uma peça selecionada e
destinada a um arco. Recomendo que se pegue retalhos de madeira e treine nestes
com as ferramentas adquiridas. Assim você poderá regular aquelas que necessitam
de regulagens, como a plaina por exemplo (siga as orientações do fabricante), e
conhecer o poder de desbaste delas.
A
ajuda de alguém com certa experiência no trabalho com a madeira também é de
extrema valia. Muitos avôs são ótimos instrutores. Lembre-se, temos muito a
aprender com os mais velhos, especialmente os realmente velhos. Um
marceneiro do bairro também não negará algumas dicas, um dia ele também
aprendeu com alguém.
O
que um homem que trabalha com madeira deve sempre ter em mente é que você
sempre poderá desbastar, lixar, retirar um pouco mais de madeira, mas nunca
será possível colocar madeira novamente. Portanto tenha paciência. Trabalhe
aos poucos. Sem preça. E sempre com muita atenção.
Agora
que você já sabe trabalhar com as ferramentas que tem, vamos ao nosso arco.
O
primeiro a fazer é decidir qual dos dois lados será as costas do arco. Quase a
totalidade das quebras de arcos acontecem pelo desprendimento das fibras da
madeira localizadas nas costas do arco. Então, temos que dar maior atenção para
esta parte de nossa arma. O lado com menos irregularidades, menos fibras
aparentes deve ser o escolhido para as costas do arco.
Uma
vez definida, as costas do arco deve ser muito bem lixada. Começando com a lixa
mais grossa (60 já está bom) lixe até você ter certeza que outras passadas
seriam desnecessárias, não mudariam nada. Então lixe um pouquinho mais. Só
então passe para a lixa 80. Após lixar bem como com a lixa 80, passe para a
100. Depois de bem lixada com a lixa 100 pode dar um pouco de descanso às
lixas. Como esta face receberá um revestimento posteriormente ela não necessita
estar mais lisa do que estará após a lixa 100.
Agora
é hora de traçar os riscos como indicados no projeto. Com um bom lápis,
trace-os nas costas do arco até chegar ao desenho Face-1 do
projeto.
Agora
você deverá tomar uma decisão, algo pessoal. Se você decidir começar a
desbastar a madeira para chegar primeiro ao traço vermelho de Face-1, pode
começar. Só depois de pronto esta fase você riscará o desenho Face-2. Se
preferir começar desbastando com o objetivo de chegar primeiro ao desenho do
traço vermelho de Face-2, risque todos os traços agora e comece o serviço.
Você
deverá tomar cuidado com as costas do arco, esta não deve ser mais mexida(no
interior do traço vermelho, é claro). Comece usando a plaina, esta deverá estar
bem afiada. Alguns se dão bem com as facas e/ou canivetes, se você é um deles,
vá em frente com suas lâminas. Quando já estiver chegando bem perto do traço
vermelho, aconselho por as lâminas e plainas de lado e começar a usar a grosa,
é bem difícil fazer uma besteira com esta ferramenta. Sempre fixe sua peça de
madeira para trabalhá-la, assim você terá suas duas mãos sempre
livres.
Revestimento
Como
já foi dito anteriormente, o desprendimento das fibras das costas de um arco é
a causa de quase todas as quebras de arcos. O revestimento ou backing
é um artifício usado para segurar essas fibras evitando a quebra. No entanto um
arco revestido não significa um arco inquebrável. Revestir um arco significa
colar em suas costas algum material tal como uma lâmina de madeira, bambu,
seda, couro de diversos tipos, sinew que é o tendão de boi, búfalo,
cervo, fibra de vidro ou carbono, entre outros. Vamos tratar aqui apenas da
madeira, do bambu e do couro, os mais simples de conseguir e aplicar e também
muito eficientes.
O revestimento com madeira pode ser feito com uma lâmina de, em média, três
milímetros de espessura, não pode ser nem muito maior nem muito menor do que
isto. A madeira usada deve ser de peso e dureza medianos e de boa qualidade. A
peça deve estar em perfeitas condições. É importante que a madeira utilizada
para este fim não seja demasiadamente fibrosa.
No
caso do bambu, este deve ser do tipo gigante ou bambu-açú, com pelo menos 10 cm
de diâmetro. Ele deve ser cortado maduro e após seco, rachado. As tiras devem
ter o seu lado externo preservado a não ser por leves desbastes que podem ser
feitos nos nós, mas isto não é necessário. O lado interno deverá ser desbastado
até se tornar plano e atingir a espessura esperada, esta não deverá ser
inferior a 3 milímetros, e poderá ser maior de acordo com a sua vontade,
lembrando que o bambu irá aumentar a potência de seu arco, portanto não exagere
na espessura deste, você pode acabar tendo que desbastar muito a madeira de seu
arco posteriormente.
O
adesivo usado na colagem da madeira ou do bambu pode ser um adesivo epóxi de
qualidade, ou cola de madeira a base de resina vinílica, esta última
muito barata e fácil de encontrar em qualquer comércio do ramo.
Para
colar o revestimento de madeira ou bambu use alguns grampos ‘C’/sargentos,
quanto mais grampos melhor ficará a colagem, tente por a mesma pressão em
todos. Tiras de câmaras de ar também podem ser usadas na colagem desde que bem
apertadas. Essas tiras podem ser usadas nos intervalos entre o grampos ou
somente elas.
Se
você optar pelo couro você terá de escolher qual o tipo de couro que irá usar.
Uma vez cortado no tamanho certo passe bem a cola de madeira a base de resina
vinílica nas costas do arco e prenda o couro ao arco usando faixas hospitalares
(encontradas em farmácias para enfaixar pés torcidos etc...), as faixas devem
ser enroladas sobre todo o arco bem apertada.
Para
colar o revestimento no seu arco este deve estar já em sua forma final, após
alcançar ambos os desenhos Face-1 e Face-2. Limpe ambas as superfícies a serem
coladas isentando-as de qualquer partícula de poeira.
Alguns
Detalhes...
Agora
que você já tem um arco revestido, é hora de preparar alguns detalhes antes de
começar a enverga-lo. Vamos desbastar os sulcos nas pontas do arco onde a
corda será encaixada. Imagine que o retângulo abaixo seja a face lateral da
ponta de seu arco. O traço em azul deverá ser traçado ¾’’ abaixo da ponta e o
verde ½’’ abaixo do azul. Sobre a diagonal em vermelho deverá ser feito o
sulco. A espessura e profundidade deste depende do tipo de corda que será usado
e de sua preferência. A ferramenta mais eficiente para este desbaste é uma
pequena grosa cilíndrica.
IMPORTANTE!:
O lado esquerdo da figura abaixo representa as costas do arco, enquanto que o
lado direito indica o ventre do arco
No
caso de você ter escolhido a madeira para revestir seu arco esta deverá ser lixada
desde a lixa mais grossa até a mais fina possível (mínimo 220) passando por
todas as intermediárias, isto antes de iniciar a tileração. O bambu e o couro
não necessitam de serem lixados.
Tillering
– Trabalhando o modo como o arco enverga
Agora
que seu arco está quase pronto é hora de começar a enverga-lo. Precisamos
agora ter paciência e trabalhar com mais cuidado do que nunca. Devido a não
uniformidade da madeira, do bambu, interferências da camada de cola entre o
revestimento, o arco poderá estar envergando mais em certos pontos da lâmina do
que em outros. Desse modo o estresse não será distribuído igualmente entre
todos os pontos reduzindo assim a vida útil do arco. Pode haver também uma
lâmina mais fraca do que a outra, o que também pode ser um problema.
Os
norte-americanos, em se tratando deste processo, usam o verbo to tiller
. Até hoje nuca consegui achar em nenhum dicionário o significado desta palavra
como um verbo, e somente americanos arqueiros conhecem tal verbo. Usarei então
a palavra inglesa aportuguesada.
É
nesta fase que iremos trabalhar essas irregularidades na envergadura de nosso
arco. É agora também que iremos diminuir a potência de nosso arco até aquela
que queremos. Para este processo, talvez o mais importante para que tenhamos um
arco bem sucedido, teremos que montar um suporte no qual prenderemos nosso arco
pela empunhadura e possamos enverga-lo progressivamente e observar como as
lâminas estão envergando até chegarmos ao tamanho de puxada que se
busca.
Um
suporte para “tilerar” um arco pode ser facilmente feito como o da foto abaixo:
Os
pontinhos no caibro são ganchos presos com buchas.
Ou,
ao invés de ganchos pode-se prender uma roldana no chão e com uma corda presa à
corda do arco, você pode enverga-lo e observar ao mesmo tempo. Não esqueça de
marcar no suporte o comprimento de puxada correspondente à envergadura
que estará sendo aplicada ao arco.
A
“tileração” deve-se iniciar com uma corda maior do que a que se encordoará o
arco posteriormente. Prende-se as extremidades da corda nas pontas do
arco sem enverga-lo ainda. Ponha-o em seu suporte e verifique se as costas do
arco está no nível (um nível de pedreiro é bem útil). Então comece a envergar o
arco. Com umas 8’’ já deverá ser possível observar a envergadura dele. O
primeiro ponto a observar é se as duas lâminas estão envergando igualmente.
Daquela que estiver envergando menos deverá ser retirada o mínimo de madeira de
toda a lâmina uniformemente (recomenda-se o uso da grosa). Vá sempre
trabalhando aos poucos. Marque a região a ser desbastada e desbaste bem pouco,
não esqueça que você não conseguirá devolver madeira ao arco! Ponha o
arco novamente no suporte e verifique o resultado. Retire madeira aos
poucos e verifique o resultado quantas vezes forem necessárias. Se você
conseguir que as duas lâminas enverguem exatamente o mesmo tanto, tudo bem. A
lâmina superior deve, no entanto, ser sutilmente (eu digo muito sutilmente)
mais flexível que a inferior. O que não deve ocorrer de maneira alguma é a
lâmina de baixo ser mais flexível do que a lâmina de cima.
Agora
que temos as duas lâminas envergando corretamente uma em relação à outra, vamos
nos preocupar em como elas estão envergando. Um arco deste tipo não deve se
parecer com uma semi-circunferência, como muitos leigos acham. O ideal é que
ele seja semelhante a uma semi-elipse. Ou seja, nosso arco deve envergar mais a
medida que nos aproximamos das pontas, o mesmo que dizer ser menos flexível a
medida que nos aproximamos da empunhadura. Mas nada muito brusco, esta deve ser
mais uma diferença sutil. Veja algumas fotos de como seu arco envergado deve se
parecer:
Imagem
cedida por George Tsoukalas
Chegando
no comprimento de puxada que se busca com esta corda grande, reduza o tamanho
dela ou utilize a própria corda destinada ao arco. Desse modo, você deverá
encordoar o arco de maneira que a corda esticada mantenha o arco um pouco
envergado. Então recomece o processo de tileração. Ponha novamente o arco no suporte,
tire-o, desbaste, retorne o arco no suporte, observe... Faça isso quantas vezes
forem necessárias até alcançar o comprimento de puxada que se quer com as duas
lâminas envergando corretamente e da mesma maneira. Se você chegar no
comprimento de puxada que se buscava com o arco ainda inteiro... Você se
sentirá verdadeiramente aliviado, a obra de suas mãos não quebrou, alegre-se,
você fez um arco!!!
Acabamento
Quando
você chegar nesta fase, Parabéns, seu arco está quase pronto e já sabemos que
deu certo. Agora é hora de trabalhar a empunhadura. Como neste projeto a
empunhadura não enverga, você está livre para trabalha-la como quiser desde que
não a enfraqueça muito. Vá trabalhando a madeira de maneira que a empunhadura
se encaixe confortavelmente na mão do arqueiro.
Agora
você terá de tomar mais uma decisão, você poderá colar uma pecinha de madeira
logo acima de sua mão ao segurar o arco para apoiar a flecha durante o tiro ou
usar sua própria mão como apoio para a flecha(era assim que a maioria dos
arqueiros dos séculos passados atiravam inclusive os ingleses da idade média).
No caso de atirar usando a mão como apoio, recomenda-se o uso de algum tipo de
luva para evitar possíveis ferimentos. Veja exemplos de empunhaduras:
É
também recomendável que se cole um protetor nas pontas do arco afim de proteger
o arco de ser desbastado pelo atrito da corda diretamente com a lâmina. Este
protetor pode ser de chifre, osso ou casco de animais, madeira ou algum
material sintético. Veja alguns exemplos:
Com
a empunhadura pronta é hora de lixar. A madeira possui uma beleza tímida, a
lixa bem usada é quem ajudará a beleza da madeira a vencer sua timidez e
mostrar-se em público. Comece com a lixa mais grossa e vá até a mais fina
possível passando por todas as intermediárias. Quanto mais fina for a última
lixa mais refinado será o acabamento e mais bela se apresentará a madeira. Lixe
todo o arco (menos o bambu e o couro se for o caso) com muita dedicação. O
bambu pode ser lixado levemente com uma lixa bem fina somente.
Depois
de lixado é hora de envernizar. A envernização é necessária para que nosso arco
se proteja da umidade, dos raios solares e ainda evita que a madeira resseque,
além de realçar a beleza da madeira. Os vernizes mais indicados são aqueles a
base de poliuretano ou a base de resina epóxi, os mais resistentes. Temos no
comércio um verniz chamado de marítimo com excelentes propriedades para este
fim, sendo este a base de poliuretano. Siga sempre as orientações do fabricante
do verniz para extrair o melhor resultado do produto que
compraste.
Parabéns
pelo seu sadio interesse nos arcos tradicionais. Boa sorte em sua empreitada!
Exemplos de arcos feitos com este tutorial
Matéria extraída originalmente do site (Desativado):
http://www.toxophilos.com.br/
Também encontramos outro tutorial muito bom no blog Formão de Madeira: